Pela segunda vez em menos de dois anos, Ednaldo Rodrigues foi afastado da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em um episódio que reacende a crise política no comando do futebol brasileiro. A nova decisão foi proferida nesta quinta-feira (16) pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) e torna nulo o acordo judicial que havia sustentado a reeleição de Ednaldo, em março de 2025.
A determinação é do desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, que considerou inválido o acordo firmado em fevereiro deste ano, o qual reconhecia a legalidade da eleição de Ednaldo realizada em 2022. O magistrado apontou indícios de incapacidade mental do então vice-presidente da CBF, Coronel Nunes, e a possível falsificação de sua assinatura, elementos que comprometem juridicamente o documento homologado na época.
Um novo capítulo de instabilidade na CBF
A anulação do acordo compromete diretamente a reeleição de Ednaldo Rodrigues, que ocorreu em março por aclamação, tendo como base o entendimento jurídico hoje revogado. Com a decisão, a presidência da entidade passa, mais uma vez, por um momento de transição.
Para conduzir a CBF até novas eleições, o TJ-RJ nomeou como interventor o vice-presidente Fernando Sarney, que foi incumbido de convocar um novo pleito “o mais rápido possível”. Sarney, que não integrou a chapa de reeleição de Ednaldo e é conhecido opositor político do dirigente afastado, tem mandato vigente até 2026.
STF pode devolver o cargo a Ednaldo?
Diante do novo afastamento, Ednaldo Rodrigues recorreu imediatamente ao Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo de anular a decisão do TJ-RJ. O histórico favorece o dirigente: em 2023, após um afastamento semelhante, ele conseguiu reverter a decisão e retornar ao cargo cerca de um mês depois.
Agora, porém, o cenário é ainda mais delicado. A fundamentação da nova decisão inclui acusações graves de fraude documental e coloca em xeque a lisura do processo eleitoral que o reconduziu à presidência. O STF deve avaliar o caso nos próximos dias, mas a pressão sobre Ednaldo cresce dentro e fora da entidade.
Fernando Sarney quer eleições antes da estreia de Ancelotti
Nomeado como presidente interino, Fernando Sarney tem como objetivo realizar as novas eleições antes da estreia oficial de Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira, prevista para o jogo contra o Equador, ainda neste ano. A declaração de Sarney indica que sua atuação será pontual e limitada: “Não vou mexer com isso, não. O futebol segue a sua vida. Sou apenas transitório”, disse ele sobre o contrato de Ancelotti.
Apesar da instabilidade no comando da CBF, o técnico italiano assegurou que seu vínculo com a Seleção Brasileira segue válido, pois foi firmado com a instituição e não diretamente com Ednaldo Rodrigues. Fontes ligadas à negociação revelam que o próprio Ancelotti foi alertado, ainda durante as tratativas, sobre o risco de mudanças na presidência da CBF, o que reforçou cláusulas contratuais que garantem a continuidade do projeto técnico.
Entenda o imbróglio jurídico que levou ao afastamento
O ponto central da nova crise é o acordo judicial firmado em fevereiro de 2025, que regularizou a eleição de Ednaldo em 2022. A partir desse documento, foi possível realizar a eleição por aclamação dois meses depois. No entanto, com a suspeita de que a assinatura do então vice-presidente, Coronel Nunes, foi falsificada — e que ele não teria plena capacidade mental para firmar tal compromisso —, o TJ-RJ considerou que houve vícios insanáveis no processo.
A decisão aponta ainda que a homologação do acordo serviu como instrumento para legitimar um processo eleitoral questionável, abrindo caminho para a destituição de Ednaldo e a instauração de nova eleição.
O que está em jogo para o futebol brasileiro?
O afastamento de Ednaldo Rodrigues acontece em um momento estratégico para a CBF. Além da transição no comando técnico da Seleção, a entidade vive um período de reorganização institucional, com pressão de patrocinadores, federações estaduais e órgãos de controle para maior transparência e governança.
Fernando Sarney, embora tenha afirmado que seu papel é apenas “transitório”, assume a presidência em meio a negociações com patrocinadores, planejamento de competições e decisões importantes sobre o calendário do futebol nacional. A rapidez na convocação do novo pleito será crucial para evitar maiores impactos na gestão da entidade.
Reações no meio esportivo
As reações ao novo afastamento foram imediatas. Nos bastidores da CBF, há divisão entre os dirigentes: alguns avaliam que Ednaldo perdeu as condições políticas de continuar, enquanto outros defendem que ele resista por meio do STF. Presidentes de federações estaduais acompanham o caso com cautela, já que a definição da nova diretoria pode alterar o equilíbrio de forças no futebol nacional.
A torcida brasileira, por sua vez, demonstra crescente preocupação com a instabilidade da CBF, em especial diante de um ano marcado pela chegada de Ancelotti e pela expectativa de renovação da Seleção.